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Setembro Amarelo faz importante alerta contra suicídio

Nascida em 2015, a campanha Setembro Amarelo teve origem no Brasil por iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV) e do Conselho Federal de Medicina (CFM), em conjunto com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). O grande objetivo é conscientizar a sociedade sobre a gravidade desse problema.

Para se ter uma ideia do quão sério é o tema, a cada 40 segundos, uma pessoa tira a sua própria vida em algum lugar do mundo. Segundo a OMS, quase 100% desses casos estão associados a algum transtorno, doença ou sofrimento mental.

Para entender melhor sobre essa problemática, conversamos com o psicólogo do Hospital e Maternidade Galileo, Thiago Ignácio.

A entrevista está imperdível, confira!

Em sua opinião, qual a importância do Setembro Amarelo nos dias atuais?

Thiago Ignácio.  A campanha do Setembro Amarelo tem função principal de conscientização da população sobre um tema muito relevante e associado ao que conhecemos comumente como saúde mental. O tema do suicídio, ainda é pouco discutido e considerado em políticas públicas de saúde ao redor do mundo, segue carregado de estigmas sociais/culturais que acabam por impactar negativamente no manejo adequado, principalmente naquilo que se refere à prevenção e
pós-venção (em caso de famílias enlutadas).

Segundo a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), em 2019, o suicídio foi a causa de uma a cada cem mortes no mundo, sendo que 58% desse total, aconteceu entre indivíduos com menos de 50 anos de idade. Esse dado se soma ao fato de que um dos principais fatores de risco para essa condição (suicídio) é a existência de um transtorno mental, que pode ou não ter sido diagnosticado, condição essa que acometeu em cerca de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo.

É de fundamental importância ressaltar que o comportamento suicida é um fenômeno complexo e multifatorial, que gera impacto tanto individual quanto coletivo e afeta indivíduos de ambos os sexos, diferentes nacionalidades, níveis de escolaridade, raça etc., e assim sendo, demanda estudo, técnica e manejo específico, em todas as esferas do poder público e privado, sendo esse considerado como um dos principais problemas de saúde no mundo. Uma campanha como essa, remete à necessidade de retomarmos o movimento acerca da nossa responsabilidade em pensar e repensar em estratégias para lidar com esse que é um fenômeno cada vez mais presente em nossa sociedade.

Como enfrentar um problema tão sério quanto o suicídio?

Thiago Ignácio. Por ser um fenômeno multifatorial, não há uma única estratégia que possa ser utilizada/recomendada para lidar com algo tão sério. As diferentes condutas envolvem tanto o papel de profissionais, quanto de familiares e outros indivíduos que fazem parte da comunidade na qual esses indivíduos estão inseridos, em resumo, todos temos um papel fundamental. Prefiro afirmar que o início se dá a partir dos estudos e evidências científicas atuais que embasam as melhores técnicas/práticas, para o trato com pacientes em condição de risco iminente de vida, o que envolve não somente uma avaliação por profissional especializado, mas também a condução de um plano terapêutico igualmente rigoroso e sustentável.

Socialmente, precisamos pensar no papel do estado como agência reguladora no desenvolvimento de políticas públicas de saúde que atinjam aqueles indivíduos com maior risco (considerando os principais fatores de risco para o comportamento suicida), além de fomentar não somente pesquisas, mas debates em torno do tema.

Mais especificamente em relação a nós enquanto indivíduos, faz-se necessário, em minha opinião, refletirmos o quanto contribuímos negativamente para a manutenção de alguns estigmas e, tentar, portanto, desmistifica-los. Infelizmente, ainda é comum escutarmos indivíduos verbalizando que aqueles que pensam em tirar a própria vida, tentam e até morrem por um ato suicida, são “fracos”, tem “ausência de uma crença sólida”, “não dão valor á família”, além de outras tantas afirmações inadequadas e incorretas.” É preciso entendermos que esses indivíduos estão em uma condição de adoecimento significativo, e que precisam de ajuda.”

Como ajudar pessoas com comportamento suicida?

Thiago Ignácio. Aqui vão algumas dicas, destacando que não se resumem a sua totalidade: (a) aos pais/familiares/amigos é importante que fiquem atentos a verbalizações dos seus filhos/familiares/amigos, como por exemplo “eu não tenho mais vontade de viver…”, “… eu não sei para que eu vim para esse mundo…” “… eu não me vejo vivendo aqui…”, “… as coisas não dão certo para mim, seria melhor que eu estivesse morto…”, “… para que eu vou continuar vivendo?…”; (b) também, comportamentos verbais – vocais ou não – que possam indicar uma despedida, como por exemplo “… se algo acontecer comigo, cuidem dos meus animais…”, “… eu amo vocês, espero que entendam e possam me perdoar caso algo aconteça comigo…”; (c) ficar atento a possibilidade de existência de bilhetes, cartas e/ou desenhos que possam ter sido encontrados e que seu conteúdo possa ser interpretado como uma despedida; (d) comportamentos que possam indicar autolesão (e.g., cortar-se, queimar-se, etc.); (e) observe o aumento da frequência de comportamentos de isolamento social, anedonia (i.e., perda de vontade em atividades antes prazerosas), sentimento de desesperança, desamparo e inadequação; (e) também o envolvimento, do indivíduo, em comportamentos de risco ( e.g., consumo exacerbado de bebida alcoólica, direção impudente, etc.); (f) e além desses, outros comportamentos que possam destoar (i.e., chamar a atenção) dos comumente observados por familiares/amigos.

É importante destacarmos a importância do trabalho realizado por instituições como o CVV (Centro de Valorização da Vida), sendo esse um recurso extremamente relevante para o suporte tanto do indivíduo, quanto daqueles que estão tentando lidar com indivíduos nessas condições (i.e., comportamento suicida), destacando com clareza as limitações do trabalho realizados por essas. Também há outras de igual relevância como o Instituto Vita Alere.

O que fazer quando se identifica alguém com comportamento suicida?

Thiago Ignácio. Em caso de urgência (tentativa de suicídio), entre em contato com o SAMU ou com o serviço de emergência do seu plano de saúde. Em caso de ideação suicida (pensamento), procure o Pronto Atendimento mais próximo, ou direcione-se a um hospital conveniado ao seu plano de saúde. Pacientes que já fazem acompanhamento Psiquiátrico e/ou Psicológico deverão ter seus respectivos profissionais de referência acionados para acompanhamento da situação de crise e possível internação (se necessário). Para informações mais específicas sobre manejo de crise suicida, procure um profissional.