Tumores cerebrais: o que são e como tratar?

Caracterizados pela presença e crescimento de células anormais no cérebro ou nas meninges – membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal – os tumores cerebrais podem afetar qualquer pessoa, independente de idade, raça ou gênero. Infelizmente, somente no Brasil, esse mal aflige mais de 11 mil pessoas a cada ano, conforme estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Já em esfera global, considerando todos os países do mundo, cerca de 2% dos casos de câncer são tumores cerebrais malignos.

Segundo o Neurocirurgião do Hospital e Maternidade Galileo, Dr. Mário Henrique Girão Faria, as causas desse mal ainda são alvo de muitos estudos. “Entende-se atualmente que essa doença é multifatorial, causada pelo somatório de várias alterações genéticas. Algumas dessas alterações são adquiridas durante a vida, por predisposição ou por exposição. Outras são hereditárias e estão presentes em algumas síndromes familiares associadas com esses tumores, como a Neurofibromatose”, comenta Dr. Mário Henrique.

Já os fatores que aumentam os riscos de tumores cerebrais são conhecidos e estão ligados à exposição à radiação. Profissionais que lidam com raios-X, pessoas que se submetem à radioterapia ou a exames com radiação excessiva são, portanto, mais suscetíveis. Aqueles que têm deficiência do sistema imunológico, em decorrência do uso de medicamentos imunossupressores ou infecção pelo vírus HIV também sofrem maior risco de contrair essa doença.

Muitos outros possíveis fatores de risco para o desenvolvimento desses tumores já foram estudados, mas até hoje não se confirmou sua relação com a doença, a exemplo de traumatismos na região da cabeça, exposição a substâncias químicas, entre elas alguns derivados do petróleo, agrotóxicos e tintas.

Da mesma forma, o consumo de aspartame, que é um tipo de adoçante artificial, a exposição excessiva ao celular e transformadores/cabos de alta tensão, que causam ondas eletromagnéticas, também não são fatores de risco comprovados. “Até o momento, não existem medidas definidas para a prevenção específica dos tumores cerebrais”, é o que afirma o Dr. Mário Henrique.

E os sintomas?

Um tumor cerebral pode causar muitos sintomas diferentes, que podem aparecer de forma súbita ou evoluir gradualmente, tanto nos casos cancerosos quanto nos não cancerosos. Os primeiros sintomas e a sua evolução dependem do tamanho do tumor, da velocidade de crescimento e da sua localização. Em algumas partes do cérebro, mesmo um tumor pequeno pode causar resultados catastróficos. Em outras partes, os tumores podem alcançar um tamanho relativamente grande antes de surgirem os sintomas. À medida que o tumor cresce, ele empurra e alonga, mas normalmente não destrói o tecido nervoso, o que pode compensar bem essas mudanças, impedindo o surgimento de sinais ou sintomas logo no início da doença.

Apesar de não existirem sintomas específicos que possam indicar a presença de tumores intracranianos, alguns merecem destaque:

• Dor de cabeça com sinais de alarme – não é qualquer dor de cabeça, mas sim uma dor nova, para quem nunca sente esse tipo de dor – mudança do tipo de dor, piora da intensidade, aumento da frequência ou quando a dor é fixa, aparecendo sempre no mesmo lugar.
• Crises convulsivas – principalmente quando o paciente apresenta a crise pela primeira vez ou não tinha recebido o diagnóstico de epilepsia antes.
• Alteração de funções neurológicas, que são chamados de déficits focais, quando há perda de força ou da sensibilidade nos membros, de visão ou de audição. Alterações da fala ou da capacidade intelectual, o que inclui compreensão, raciocínio, escrita, cálculo e reconhecimento de pessoas. Coordenação e equilíbrio ou mesmo mudança de comportamento (apatia, agitação ou agressividade) em relação ao padrão normal da pessoa.
• Ganho de peso súbito, produção de leite, parada da menstruação, entre outras alterações hormonais.

“A detecção precoce do câncer é uma estratégia para encontrar o tumor numa fase inicial e, assim, possibilita maior chance de tratamento. A partir do exame neurológico minucioso, os exames de imagem com Tomografia Computadorizada e Ressonância Magnética são os principais na investigação dessas doenças”
Dr. Mário Henrique Girão Faria, neurocirurgião do Hospital Galileo

E como funciona o tratamento?

O tratamento varia de acordo com o tipo de tumor, tamanho, localização, se ocorreu disseminação, além, é claro, das condições do paciente (idade e estado geral). Sempre que possível, indica-se a remoção cirúrgica do tumor, o que permite a descompressão das estruturas cerebrais, fornecendo material para análise sobre o tipo tumoral. Assim, a definição sobre os possíveis tratamentos adicionais mais adequados pode ser prescrita.

As modernas técnicas microneurociúrgicas permitem a abertura segura do crânio, com mínimos danos ao cérebro, favorecendo a remoção cirúrgica total ou mais abrangente possível para minimizar a chance de reaparecimento, protegendo as áreas mais sensíveis. Pode-se ainda utilizar modalidades acessórias para conseguir acessos por vias especiais, minimamente invasivas (endonasal) e de tamanho reduzido (biópsia estereotáxica), além de agregar diferentes tecnologias para aumentar a chance de retirar todo o tumor com os menores danos possíveis – cirurgia com o paciente acordado, aspiração ultrassônica, utilização de fluorescência transoperatória, aspiração ultrassônica e laser.

Infelizmente, muitos tumores são múltiplos ou crescem em zonas onde a completa extração é muito difícil ou mesmo impossível de ser realizada sem causar danos a estruturas vitais. Mesmo quando a cura é impossível, a cirurgia pode ser útil para reduzir o tamanho do tumor, aliviar os sintomas e permitir ao médico determinar se a realização de outro tipo de tratamento é justificada, como radioterapia ou quimioterapia – incluindo imunoterapia e drogas imunoguiadas.

Outra modalidade de tratamento, indicada em situações especiais, como nos casos de tumores pequenos e indolentes, lesões de difícil acesso, reincidência em pacientes com comorbidades é a Radiocirurgia. “Essa técnica não é, de fato, uma intervenção cirúrgica, visto que não requer nenhuma incisão. Emprega-se um feixe de radiação concentrada, podendo ser realizada através de raios gama, semelhante aos de radioterapia ou aceleradores lineares”, explica o Dr. Mário Henrique.

Para alguns casos específicos de tumores benignos de lento crescimento, somente o acompanhamento clínico através de exames de imagem e consultas periódicas pode ser uma opção válida, especialmente para pacientes que apresentam poucos ou nenhum sintoma.

E a medicação? Medicamentos à base de corticoides podem ser utilizados para controle do inchaço ao redor do tumor e devem ser prescritos em associação com protetores gástricos. O uso de anticonvulsivantes também pode ser uma boa opção.